Em que consiste exatamente a quarta dimensão? Das discussões entre matemáticos, cientistas e místicos emerge uma estimulante polêmica: a quarta dimensão abrangeria num nível mais sutil as três outras com que convivemos, e incluiria também todo o passado e todo o futuro.
Quantas dimensões tem a realidade em que vivemos? Normalmente consideramos que o mundo ao nosso redor é tridimensional. Pensar na existência de uma quarta ou quinta dimensão desafia a estrutura atual do pensamento humano. A quarta dimensão – se ela existe de fato – transcende tudo o que vemos ou sabemos através dos cinco sentidos, e exatamente por isso constitui um mistério fascinante.
Há várias maneiras de abordar o quebra-cabeça que é investigar a quarta dimensão. Mas quero começar pela mais simples. Vamos criar, simbolicamente, um universo. Imagine um ponto sobre uma folha de papel. Geometricamente, ele não tem dimensões. É um local de transição entre o mundo sutil, intocável e imensurável, e o mundo denso, cujos objetos podem ser medidos. Quando esse ponto se une a outro ponto e se transforma numa linha reta, temos, digamos, um universo físico unidimensional. Essa reta pode ser infinita, e, no entanto ela só tem uma dimensão.
Para avançar na nossa experiência, imaginemos então que a linha reta faz uma curva fechada, como se dobrasse uma esquina, formando um ângulo de 90°. Temos, agora, uma superfície. O nosso universo ficou bidimensional: possui extensão e largura. É infinito, potencialmente, mas só existe em um plano ou nível. Visualize a seguir a nossa linha erguendo-se em outro ângulo de 90°, para formar uma perpendicular em relação ao plano em que o universo existia. O nosso processo de manifestação adquire assim a condição de tridimensional. Tem extensão, largura e altura. Pode ser habitado por corpos sólidos. Este é o universo que os seres humanos estão acostumados a enxergar. Mas o que é, ou pode ser, o universo quadridimensional que vem a seguir?
Segundo os matemáticos, para alcançar a quarta dimensão, a nossa linha reta teria de apontar agora não mais para cima, mas para dentro, formando, de algum modo misterioso, uma linha perpendicular em relação às três retas anteriores, que deram a extensão, a largura e a altura do nosso universo. A afirmação é, no mínimo, enigmática. Ela força os limites da compreensão racional de que o cérebro humano, treinado para um mundo tridimensional, é capaz atualmente. Prefiro dizer que a quarta dimensão é aquela em que surgem as três dimensões anteriores; e é também a dimensão transcendente que surge quando se esgotam as possibilidades da realidade tridimensional. Vejamos o que significa isso.
A partir do final do século XIX, a ciência descobriu gradualmente a existência de substâncias mais sutis do que os três estados clássicos da matéria, o sólido, o líquido e o gasoso. É o caso da radiatividade, da física quântica, ou da teoria do Big Bang, a grande explosão cósmica que atraiu o universo para o plano tridimensional. Esses vários exemplos sugerem a existência de outra dimensão ou de um plano mais sutil da realidade. A hipótese da quarta dimensão não surge isoladamente. Ela corresponde à luz astral dos espiritualistas, ao akasha dos hindus e ao fogo divino da tradição persa. Sua idéia central foi chamada recentemente de campo mórfico nos trabalhos científicos do biólogo inglês Rupert Sheldrake e também de ordem implícita nos textos do físico David Bohm. Mas, para os estudantes de matemática e geometria, a idéia da quarta dimensão é um desafio lógico e racional que amplia o raciocínio humano até os limites do impossível, numa tentativa de ir além da limitação dos cinco sentidos.
Para o físico Albert Einstein, a quarta dimensão é o tempo. Não há, nisso, uma discordância da ciência com a tradição esotérica. A quarta dimensão está além – literalmente – de tudo o que se pode descrever com palavras, mas um dos seus aspectos fundamentais é o tempo, com certeza. Esse fato fica claro também nos conceitos de campo mórfico, de Sheldrake, ordem implícita, de David Bohm, e akasha, a idéia oriental de “registro cósmico de tudo o que ocorre”. Nos três casos, uma existência sutil e total é registrada no espaço quadridimensional, incluindo o passado, o presente e o futuro potencial de cada ser ou objeto. A quarta dimensão contém todas as modificações que ocorrem no espaço ao longo do tempo. Para Albert Einstein, espaço e tempo eram inseparáveis. O eterno aqui e agora é, pois, uma função do universo quadridimensional. Estamos imersos nele o tempo todo. O nosso hemisfério cerebral direito é capaz de captá-lo. A função humana da criatividade consiste na capacidade de focar a consciência no potencial ilimitado do universo quadridimensional e trazer algo do seu oceano de possibilidades para o estreito mundo tridimensional. Antes de nascer, existíamos na quarta dimensão. Depois da morte física, voltaremos ao mesmo mundo sutil da ordem implícita. Nesse exato momento, a criança que já fomos e o velho que ainda seremos estão presentes no universo potencial da quarta dimensão. Não são imutáveis, mas estão lá.
O espaço apresenta diversas dimensões, de acordo com a consciência dos seres que o habitam. Do ponto de vista da linha reta, como vimos, ele possui uma só dimensão. Do ponto de vista da superfície, ele tem duas. Um universo habitado por corpos sólidos apresenta três dimensões. Mas há planos ou níveis ainda mais sutis. E cada dimensão do universo inclui em si as dimensões anteriores, mais densas.
Há indícios experimentais das dimensões sutis? Uma comprovação vivencial da existência da quarta e da quinta dimensões no espaço é o fato de que sentimos as nossas próprias emoções e pensamentos como realidades espaciais. Nossa consciência pessoal se estrutura e se organiza como um espaço – mais ou menos tranqüilo, mais ou menos organizado – em que se movimentam as impressões e informações vindas dos cinco sentidos, e onde também se movimentam e vivem vários tipos de emoções e idéias. A consciência humana é, pois, um espaço interior em que há vários níveis. A quarta dimensão corresponde ao plano astral.
Os subníveis inferiores – mais densos – da quarta dimensão são sugeridos pela existência da eletricidade, dos raios X e da radiação atômica, que dissolvem as fronteiras fixas do mundo de três dimensões. A quarta dimensão inclui também o mundo magnético e emocional, em que operam a atração e a repulsão. Já a quinta dimensão dá o espaço mais sutil em que operam as idéias abstratas. Aqui existem os arquétipos puros da mente divina, que as filosofias pitagórica e platônica chamavam de números e idéias. A sexta dimensão corresponde ao mundo da intuição pura, e a sétima aponta para uma realidade suprema – atma – sobre a qual a humanidade não é capaz de fazer descrições ou especulações detalhadas.
As várias dimensões no espaço estão relacionadas com os diversos estados da matéria. Um grande raja iogue dos Himalaias afirmou, em 1883, ao comentar experiências científicas que já levavam à descoberta da radiatividade: “A ciência ocidental ainda terá de descobrir três estados da matéria.” E isso além do quarto estado, radiativo ou “radiante”, que sir William Crookes estava descobrindo. Com isso pode-se pensar em sete estados da matéria, correspondentes não só a sete dimensões do espaço, mas também, de certa forma, a sete níveis de consciência humana ou pós-humana. Além deles, a sabedoria oriental afirma que há Parabrahm, o espaço abstrato absoluto, a consciência pura e incondicionada de onde surgem periodicamente os universos.
Conforme o desenvolvimento da consciência humana, diferentes estados da matéria são percebidos em diversas dimensões do espaço, cuja sutileza é crescente. A organização da natureza em níveis de transcendência crescente está exemplificada até mesmo no plano físico. A água é mais sutil do que a pedra, e o ar é mais sutil que a água. Assim também os objetos da quarta dimensão são mais sutis do que o ar. Tudo no universo está organizado em escalas de vibrações, das quais o ser humano, com seus cinco sentidos, só é capaz de perceber uma pequena parte. São os casos do som e da luz, para citar apenas dois exemplos. Do mesmo modo como o ser humano não pode captar certas vibrações luminosas e sonoras, ele também é incapaz de perceber seres e objetos da quarta dimensão. Os limites do plano físico, na verdade, não são muito precisos. Um cachorro ou gato podem cheirar, ver e ouvir coisas que um ser humano não percebe. Eles também podem perceber certos objetos que estão além do mundo tridimensional.
É na quarta dimensão que atua fohat, a luz primordial da doutrina esotérica. Essa energia cósmica faz uma ponte entre o espírito e a matéria, obedecendo à vontade da Mente Universal. É fohat que estabelece as leis da harmonia e do equilíbrio como guias de toda evolução no mundo físico. Por outro lado, Helena Blavatsky ensina em sua obra A Doutrina Secreta que o éter constitui a forma mais densa do akasha ou luz astral. Para a filosofia oculta, o éter é o quinto elemento da natureza, logo após a terra, a água, o ar e o fogo. Num futuro relativamente distante, quando a humanidade estiver bem mais evoluída, os objetos da quarta dimensão e o éter serão visíveis para o cidadão atento.
Um modo possível de conceber a existência de uma quarta dimensão consiste em imaginar a totalidade do tempo universal e do espaço cósmico e lembrar que eles estão inseparavelmente entretecidos, formando uma quarta dimensão sutil que está presente, a cada instante, em todos os lugares do mundo tridimensional. A tradição esotérica ensina que, ao contrário das aparências, o mundo não existe apenas no presente. Ele inclui todas as partes e todos os tempos, e é apenas um determinado instante e um aspecto limitado dele que existem no aqui e agora.
A vida interior do ser humano se dá nas dimensões sutis. Só a vida externa vai escoando um instante após o outro pelo mundo tridimensional, desde o começo da primeira infância até o final da terceira idade. As vibrações do passado e as sementes potenciais do futuro estão presentes em torno da pessoa – mais precisamente na aura que rodeia seu corpo físico – e são perfeitamente reais, embora não possam ser detectadas pelos cinco sentidos. Em suas pesquisas científicas, Rupert Sheldrake tem reunido indicações dessa realidade. E Alexander Horne escreveu:
“Assim como um homem que viaja pelo campo percebe uma paisagem que muda gradualmente, embora na realidade a paisagem prossiga igual, assim também somos nós, viajando nas asas do tempo, percebemos um universo em movimento. O universo parece em movimento porque a nossa consciência limitada só nos permite ver uma coisa por vez.”
Para Horne, então, a passagem do tempo é na verdade a passagem do nosso mundo tridimensional, levado por uma sucessão infinita de “momentos presentes”, ao longo de uma quarta dimensão universal que inclui todo o passado e todo o futuro. Tridimensionalmente, “vemos a cada instante apenas uma porção infinitesimal do universo”, escreve ele. “O passado e o futuro, juntos, formam a realidade. O presente é só uma linha divisória, e, do ponto de vista do espaço superior, uma abstração, uma ilusão.”
O tempo mostrará a árvore presente na semente, revelará o adulto presente na criança, o velho presente no adulto, e também a futura criança presente no amor entre o homem e a mulher. Alguns pensam que o futuro e o passado não existem porque preferem negar tudo o que não é visível e tridimensional. No entanto, os dados presentes na memória de um computador, embora ocupem um espaço virtual, abstrato, estão presentes e disponíveis a cada momento. Uma biblioteca eletrônica não precisa de estantes. Do mesmo modo, a memória humana não guarda suas lembranças no cérebro. O cérebro localiza os dados onde eles estão, isto é, no akasha, no éter, no espaço sutil da quarta dimensão. Esse é o ponto de vista da tradição esotérica, que Rupert Sheldrake também recupera com o seu conceito científico moderno de campo mórfico.
Quando um violinista executa uma melodia, a obra está toda presente na dimensão sutil, embora o som físico avance lentamente, a cada segundo, do início até o final da música. Do mesmo modo, a evolução humana está toda presente no momento atual, embora só possamos perceber uma fatia estreita da evolução da vida com os nossos sentidos tridimensionais. São a mente e a intuição que nos permitem perceber as dimensões sutis. Em A Doutrina Secreta, Helena Blavatsky cita um diálogo místico entre mestre e discípulo:
“-O que é que existe sempre?”
“-O espaço, o eterno anupãdaka (em sânscrito, aquele que não tem origem).”
“-O que é que sempre existiu?”
“-O germe na raiz.”
“-O que é que está sempre indo e vindo?”
“-A grande respiração universal.”
“-Então esses três são eternos?”
“-Não, os três são um. O que sempre é, é um; o que sempre foi é um; e o que está sempre em transformação é um; e este Um é o Espaço.”
O espaço interior adquire diversas características, conforme os objetos e as consciências que o ocupam. “Os cristãos primitivos sabiam disso e, em sua linguagem própria, deram ao plano mais sutil o nome de sétimo céu”, escreveu Vera Stanley Alder. Para Vera, “a quarta dimensão nos ensina que quanto mais perto chegamos da realidade, da fonte e da causa das coisas, menos existe separação e isolamento. O separatismo nos leva cada vez mais para longe da nossa ligação com a realidade. Ele expressa a nossa limitação sob as vibrações físicas”.
Realmente, o mínimo que se pode dizer sobre a quarta dimensão é que ela dissolve as fronteiras e mostra a unidade de todas as coisas. Um corpo em quatro dimensões tem comprimento, largura, profundidade e ainda uma quarta característica, indescritível com palavras, mas que inclui a permeabilidade. Além disso, na quarta dimensão as distâncias físicas não existem. “O mundo quadridimensional convoca a humanidade para ser livre”, escreve Vera Alder, “convida-a para herdar a Terra e os céus, para possuir todas as coisas, e para compreendê-las por meio do amor e da unidade”.
O corpo humano é tridimensional, mas a vida transcende a forma. Uma igreja pode ser tridimensional, mas a verdadeira religião vai além de qualquer forma externa. É o universo das dimensões sutis que inspira o mundo tridimensional. Há muito tempo que os sábios ensinam isso.
A matemática e a geometria dos pitagóricos apontavam para a quarta e a quinta dimensões. Platão, quando distinguiu o universo sensível do universo inteligível, falava dos mundos tridimensional e pentadimensional, isto é, da realidade ilusória que se experimenta com os cinco sentidos e da realidade permanente que se percebe com a inteligência abstrata. A luz astral ou akasha (4ªD) liga a mente universal (5ªD) com o universo físico denso (3ªD). Na famosa alegoria da caverna, no Livro 7 da obra A República, Platão descreve a prisão sensorial da humanidade na caverna escura de um universo tridimensional, enquanto, na verdade, a vida só flui livremente nas dimensões mais sutis. Os seres humanos mal-informados pensam que as sombras projetadas na parede da caverna (o plano físico) são reais, mas a vida plena ocorre a céu aberto e é iluminada pelo Sol, símbolo do bem e da sabedoria.
Quando alguém nasce para o mundo tridimensional, sua consciência fica presa pela percepção limitada dos cinco sentidos, e assim surge a doença da separatividade e do egoísmo. Mas esse mal tem cura. A percepção do universo como um processo aberto em quatro dimensões permite que a consciência humana se liberte da noção tridimensional e fechada de “eu”, segundo a qual nada do que é “meu” pode ser do “outro”, assim como o que é “do outro” não pode ser “meu”. A percepção do universo em quatro dimensões, que corresponde em linguagem espiritualista ao despertar da consciência no plano astral, nos mostra as possibilidades ilimitadas de cooperação entre todos os seres. Essa nova visão do universo abre espaço para a compreensão de que as várias formas de vida constituem uma só comunidade. Assim, os pequenos “eus” individuais vêem a vida em seu conjunto e se comprometem com ela, de modo que a felicidade de cada um inspira e é inspirada pela felicidade de todos os outros.
Carlos Castaneda escreveu que o “eu” pessoal é prisioneiro da ansiedade porque teme olhar a vida com serenidade e descobrir que, na realidade, não existe. Perseguido pela suspeita terrível de que não existe, o “eu” agarra-se a uma noção estreita de espaço e tempo, para produzir uma falsa impressão de continuidade psicológica. Na verdade, esse “eu” teme apenas abrir-se para a felicidade e a bem-aventurança que estão à sua disposição logo além dos muros tridimensionais do mundo aparente. Quando o “eu” pessoal abandona suas couraças e proteções, consegue finalmente olhar para seu potencial divino, e então o foco da sua consciência não se desvia mais do caminho. Ele encontra seu “eu” eterno e ingressa finalmente na onda vibratória da nova era em que o ser humano encontra a paz e a felicidade. Está escrito há milênios nos registros do akasha, na quarta dimensão, que a nossa humanidade reencontrará a felicidade. E também que esse reencontro avançará por um processo alquímico de compreensão do sofrimento por parte de cada indivíduo humano. Até que o número de pioneiros seja suficiente e o carma coletivo, registrado na luz astral, esteja maduro. Então o processo de transmutação se generalizará em progressão geométrica, e a dor coletiva se transmutará facilmente em sabedoria.
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