quarta-feira, 10 de novembro de 2010

MESTRE DE SI MESMO - POR FRANK E KRISHNAMURT


Encontrei o Equilíbrio quando trilhava o Caminho do Meio. Ele era um sujeito tranqüilo, sorridente, com os olhos brilhantes e andava com tanta confiança, que fiquei desconfiado; seria esse sujeito alguém real em que eu poderia me tornar? Já havia trilhado outros caminhos e estava meio decepcionado. Certa vez, trilhei o Caminho da Negação e encontrei o Cético.


Convincente e seguro, ele me ensinou o poder do questionamento e como as pessoas acreditam em qualquer coisa, transformando-as em verdade absoluta, como certas lendas e contos populares que são passados, de geração para geração. Achei que ele tinha razão, mas aí deixei esse caminho, quando percebi que o Cético duvidava de tudo, menos do seu próprio ceticismo. Outra vez, trilhei o Caminho do Exagero e encontrei o Fanático. Ele aparentava estar em felicidade plena, mas falava de Deus com um estranho brilho no olhar, que me dava medo. Dizia que Deus estava em tudo e que só o que precisávamos era do amor, o que me deixou mais confiante; mas, quando ele tentou me convencer a ser seu discípulo, para que eu tivesse acesso às grandes verdades do universo e me tornasse um escolhido a embarcar na caravana do próximo Messias, caí fora do barco o mais rápido que pude e voltei à minha busca. Desiludido, pensei em desistir de procurar, até que encontrei o Equilíbrio e, por ele ser tão simples e, até certo ponto, familiar, desconfiei que não fosse real. Eu estava enganado. Satisfeito, perguntei se poderia caminhar com ele. - Claro! - ele respondeu - Mas você está disposto a caminhar com suas próprias pernas e a pagar o preço? - Preço? - Isso mesmo. O preço de enxergar e compreender que estamos manifestados como seres humanos e, como tais, devemos aceitar as nossas limitações. Precisamos aprender a questionar certas coisas e aceitar outras, como parecem ser, mesmo que elas não possuam nenhuma lógica aparente. A mente humana é limitada e, por mais que se consiga efetuar cálculos avançados, quando o assunto é o coração ou a espiritualidade, mal sabemos a tabuada. E, ainda assim, quando aprendemos a somar um pouco e descobrimos que um mais um é igual ao infinito, esse resultado não é a verdade absoluta do universo coletivo; pelo contrário, essa soma nada mais é do que a SUA versão da verdade. Por isso é perigoso evangelizar o mundo com as nossas experiências, pois, cedo ou tarde, descobrimos que, por mais que passemos toda a vida tentando ser mestre dos outros, só conseguiremos, se tivermos sucesso, ser mestres de nós mesmos. São Paulo, 09 de maio de 2008. Frank



Nota de Wagner Borges: Frank é o pseudônimo do nosso amigo Francisco de Oliveira, participante do grupo de estudos do IPPB e da lista Voadores. Depois de vários anos morando em Londres, ele voltou a residir em São Paulo, em fevereiro de 2005.

Tudo o que tenho a dizer-vos é que os deuses, os mestres, os guias, não são absolutamente necessários para atingirdes a libertação. O essencial é que vos torneis livres e fortes e não o podereis fazer se tendes mediadores acima de vós. Não podeis ser livres e fortes se me tomardes para Mestre. Não é isso o que eu quero e sim tornar-vos fortes e livres não pelo êxtase, mas por uma reflexão atenta e deliberada, após uma longa pesquisa. Só esta certeza interior poderá destruir em vós todas as deformações do irreal. Eu nego que a verdade possa achar-se através dos outros, por muito maravilhosas que sejam tais pessoas e as suas organizações. A totalidade absoluta não pode ser realizada senão pelo vosso esforço pessoal. Observei pessoas que levavam uma vida regrada, que se levantavam a horas certas, que se alimentavam de acordo com a maneira prescrita por um pretenso ser espiritual, e que não pensavam aquelas coisas que lhes foram proibidas. Eu observei-as e vi que faltava aquilo que traz a frescura da vida. Não é impondo-se limites, observando de maneira ininteligente e estreita disciplinas mesquinhas, que se atinge o fim. A Verdade é independente do que comeis, da maneira pela qual meditais e do caminho que seguis para alcançar a compreensão.



Krishnamurti

Nenhum comentário:

Postar um comentário