terça-feira, 1 de novembro de 2011

O CAMINHANTE E OS CAMINHOS



"Penso noventa e nove vezes e nada descubro; deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio e eis que a verdade se me revela" - Albert Einstein.



Para o indivíduo que almeja por uma vida fora do lugar comum, que busca por experiências que lhe permitam comprovar que a sua ânsia interior é a certeza de que lhe falta algo que não se enquadra com a realidade que se apresenta à sua volta e contudo não identifica de onde vem essa sensação. Esse "há algo mais do que parece", que é um se sentir muito maior, mais especial e mais importante do que a pessoa que o seu meio o obriga a ser, o moverá a um caminho de busca para a expressão da sua espiritualidade, uma vez que o ser social não encontra conforto na realidade, a sua busca passa a ser pela expressão da espiritualidade, certeza de que encontrará o conforto interior.



Poderá provavelmente se orientar pela busca de material oficial e acadêmico, que o conduzirá aos registros históricos oficiais sobre outras culturas e povos que desenvolveram um relacionamento diferenciado com a vida, com o existir; poderá se conduzir a registros autênticos de teoria e de experimentação, de indivíduos ou de organizações religiosas e nessa segunda hipótese pode estar o início uma série de maus entendimentos, que poderão trazer muito mais decepções e infortúnios do que o tão esperado conforto.



Da mesma forma que é desejável buscar pelos registros oficiais para respaldar os estudos, é no mínimo razoável buscar nas escolas iniciáticas estabelecidas e nas pessoas idôneas o conhecimento téorico e a experimentação prática.



As escolas iniciáticas são continuadas por pessoas comprometidas com o objetivo maior que as rege. A despeito do módus operandis individual, nunca este poderá se opor aos propósitos da escola. Muitas renasceram ou reestruturaram no século XIX, ainda assim permanecendo uma continuidade pela manutenção dos conhecimentos e tradições fechadas para a proteção dos seus propósitos. Nem sempre essa proteção diz respeito aos ataques externos ou político-sociais. Pela natureza humana, é necessário que a segmentação seja controlada, mantendo a integridade dos conceitos coesos e a sua evolução condizente e embasada na experimentação consciente dos seus mestres.



Muitas pessoas já passaram por essas escolas e se tornaram mestres solitários, ainda assim sem ter perdido o vínculo com a sua matriz. Nem sempre a matriz de um mestre é da ordem física, mas ele sempre se apresentará como um simples. Nem sempre dócil, nem sempre rude, nem sempre decifrável, simples com certeza, pois o que importa é a manutenção da obra.



O saber, ousar e calar é um simbolísmo que sintetiza a postura do sábio não representando uma fórmula que leverá o estudioso instantaneamente a um estado de elevação e compreensão. Mais do que isso, esse simbolismo rege a uma postura completa, que é conquistada pelo indivíduo nos diversos campos da vida, fazendo parte do seu desenvolvimento enquanto ele se conduz a cada status necessário da sua jornada de busca pela sabedoria.



Essa postura no caminhar pelas vias do conhecimento e pelas estradas da vida é bem pouco relacionada com a aura de mistério, obscuridade e morbidez que glamurosamente se distribui por aí pois diz respeito diretamente a simplicidade e a alegria. Encontrada essa postura, esse estado de ser passa a ser um cartão de visitas, uma vestimenta que demonstra a realidade das suas intenções e lhe abre as portas, uma por vez, dos grandes salões do aprendizado.



O material indiscriminadamente distribuído fora do colegiado, sem a orientação, sem o acompanhamento de uma mestria tem a sua utilidade corrompida, qualquer estrutura simples de aprendizado é construída por etapas necessitando das preliminares que ajustam a capacidade cognitiva do aprendiz. Consequentemente, não basta a leitura de uma obra secreta para que se cruze portais e frequentemente são identificados grandes sacerdotes cruzadores dos portais criados pela própria ilusão.



A liberdade tão promovida também tem o seu entendimento deturpado, certamente todo aquele que se despe das ilusões interiores o tempo todo está livre de si mesmo, pois alcança o controle do ego, que antes de ser estigmatizado como o pior inimigo do homem, pode ser compreendido que ele oscila entre ser o pior inimigo e o pilar do poder interior, a integridade, que não faz parte do bem nem do mal. O ego desvendado passa a ser o aliado.



Ainda que livre das armadilhas internas pessoais, na coligação com uma potência superior, alimentando-a, mantendo-a. Seja um organismo, uma organização, um entidade, uma associação, a natureza, a mente superior, a grande teia, haverá sempre o compromisso com a integridade maior, que a sustenta. Leis, códigos de conduta. Suas normas são as contrapartes físicas da realidade metafísica da relação dos seres com algo maior e nesse campo, lamentavelmente, encontramos os seus desdobramentos equivocadamente traduzidos nas posturas góticas, vampíricas, sombrias e mórbidas.



Na grande espetáculo do parecer que é em detrimento do aprender a ser, o neo sofista vende o seu conhecimento em pacotes prontos plagiando pobremente as escolas iniciáticas e promovendo ainda mais enganos e ilusão para aqueles que preferem comprar pronto o que possivelmente já possuem mas não querem procurar aonde guardaram procrastinando o seu próprio direito de brilhar.



Imediatamente esclarecendo a idéia sobre o que possivelmente já se possui não deve gerar a agradável sensação de conforto. Não há aqui um endosso de que o conforto leva a algum lugar, ou que ao chegar a algum lugar trará o conforto. Ou que o caminho da sabedoria tem fim e um final feliz. O conforto é estéril, fixo. Em um caminho mais reto possível rumo à sabedoria, em nenhuma paragem haverá conforto. Ao se ter essa sensação, que se tenha a certeza de saiu do rumo.



Então a questão passa a ser em quanto a felicidade se relaciona com a sabedoria e o conforto. Se falta conforto haverá felicidade? Eu poderia dizer que grande parte da felicidade está implícita em se sentir preenchido, em outras palavras, a alternância entre a falta, o imenso desejo e o receber, o êxtase pleno, a se repetirem, cada vez mais intensamente.



Márcia Nogueira - Alba
 
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