quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

LEMÚRIA -- A TERCEIRA RAÇA MÃE


Duas das leis fundamentais da Ciência Esotérica, são a Lei dos Ciclos, do Ritmo ou da Periodicidade – tudo quanto existe, manifesta-se ciclicamente – e a Lei do Holismo ou das Unidades Colectivas – tudo quanto existe, tem lugar num ser (ou Todo) maior.

Dessas duas Leis decorre que há universos dentro de universos, microcosmos dentro de macrocosmos e macrocosmos dentro de megacosmos. Por exemplo, no cosmos físico individual de cada ser humano, existem milhões de átomos. Cada ser humano, por sua vez, considerado no seu todo (divino, espiritual, mental, psíquico, astral, vital e físico) integra uma Hierarquia de Poderes Criadores – a Hierarquia das Mónadas Humanas (1), e vive, move-se e tem o seu Ser (2) num todo maior que é o nosso planeta. Este, por sua vez, engloba-se num Universo maior, que é o nosso sistema solar, e este, por seu turno, representa uma unidade incluída num Cosmos maior. Poderíamos continuar indefinidamente, acompanhando a inclusão em unidades cósmicas sempre mais vastas e mais abarcantes. E todos estes pequenos e grandes cosmos se manifestam ciclicamente, têm fluxos e refluxos, inspirações e expirações, encarnações e desencarnes – ou seja, uma manifestação cíclica.
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(1) Hierarquia das Mónadas Humanas – Chamamos aqui Mónada Humana à Essência Divina Imortal no Ser Humano. Idêntica com o Espírito Divino Universal, ela contém em si a mesma a potência logóica, criadora, e é participe na construção do(s)seu(s) próprio(s) Universo(s) – as formas onde encarna – e na sua evolução. Colectivamente, as Mónadas Humanas formam uma das Hierarquias Criadoras. O Ocultismo não sustenta a existência de um Deus individualizado ou pessoal que, num dado momento, tenha criado o Universo. Postula, sim, a existência de um Pensamento Divino de (ou para cada Universo), contido na Mente Cósmica (Mahat) formada pela substância de todas as mónadas divinas ou unidades de vida imortais. São estas Inteligências Espirituais que, no seu conjunto, e reunidas e dispostas em Hierarquias, vão construindo, mantendo, dirigindo e fazendo evoluir o Cosmos, nas suas diferentes “partes”, regiões, formas e vertentes. Cada Hierarquia de Poderes Criadores encontra o seu lugar próprio na prodigiosa economia universal e corresponde ao funcionamento ou dinamismo das Leis. No seu conjunto, formam o Logos ou Verbo Criador. Remetemos para os nossos artigos “Ordem e Inteligência no Cosmos”, publicado no nº10 da Biosofia (Centro Lusitano de Unificação Cultural, Lisboa, 2001), e “Demiurgo”, publicado no nº 18 da mesma revista (idem, 2003).
(2) Actos dos Apóstolos, 17:28.


O(s) Universo(s) Solar(es)
A Ciência Oculta tem como campo de estudo o Universo Solar, salvo quando se declare que está em causa um Cosmos mais vasto ou mais pequeno (conforme os casos). De resto, a Sabedoria Antiga sempre foi manifestamente heliocêntrica – com o corolário exotérico dos cultos solares –, o que é mais um bom argumento para questionarmos o pressuposto oficial de que, na Antiguidade, todos tinham uma concepção geocêntrica – o que, de facto, não corresponde à realidade. Sabendo que o nosso Sistema Solar, por sua vez, integra um Cosmos Maior, como acontece com outros sóis, basicamente em conjuntos septenários e duodenários, a Ciência Esotérica assinala-lhe, ao mesmo tempo, os universos plurais que nele se incluem (sendo, portanto, mais limitados) e os seus ciclos de manifestação.


Os Planetas, Ocultamente Considerados
Um planeta é um universo dentro do Cosmos maior que é o Sistema Solar. Entretanto, o conceito ocultista de Planeta é distinto do que encontramos na Astronomia ou no pensamento comum.

Em primeiro lugar, ele compreende não apenas um determinado corpo celeste mas toda uma esfera – a esfera planetária – de influência, que, do ponto de vista físico, se inscreve no perímetro do percurso orbital, e, do ponto de vista metafísico, corresponde a um determinado princípio ou faixa de consciência, numa igualmente subdivisão septenária e duodenária (neste caso identificando-se e estando em relação com os 12 signos zodiacais e as hierarquias criadoras correlacionadas), no seio do Todo Solar.
Em segundo lugar, a Astronomia considera apenas o planeta físico, enquanto que a Ciência Oculta contempla sete diferentes Planos de Substância ou Estados de Ser no universo planetário.
Finalmente, a Astronomia fala de um planeta como celeste globular, enquanto que o Ocultismo alarga o conceito de Planeta a um Esquema Planetário, no qual existem uma cadeia de sete (e não somente um) globos planetários. Estes estão dispostos conforme a figura I: existe um globo, o ‘D’, no plano de substância mais densa (o 1º contando de baixo ou o 7º contando de cima); dois, o ‘C’ e o ‘E’, no plano seguinte em maior subtilidade (o 2º contando de baixo, o 6º contando de cima); dois no seguinte, o ‘B’ e o ‘F’; e dois, o ‘A’ e o ‘G’, num 4º Plano. (Em rigor, em rigor, não é exactamente assim, porque os globos ‘E’ a ‘G’ são mais subtilizados, pela influência ascendente da Vida”, do que os correspondentes ‘A’ a ‘C’, conforme ilustrado na figura II). Note-se que quando dizemos, por exemplo, que o globo ‘D’ está no plano de substância mais densa – no caso, a matéria do Plano Físico –, isso significa que a sua camada mais externa é constituída dessa substância. No mesmo globo ‘D’, contudo, existem igualmente os planos mais subtis ou internos. Se, noutro exemplo, dissermos que um globo existe na substância astral, isso, também neste caso (e, em todos os outros, analogamente), apenas significa que desse grau vibratório de matéria é constituído o seu nível mais denso ou materializado, existindo, no entanto, de igual modo, os planos mais subtis que o interpenetram.

Cadeias, Globos e Rondas
Esse conjunto de sete globos – referidos pela ciência Oculta e assinalados no próprio exoterismo dos Vedas, dos Puranas (sobretudo no Vishnu Purana) e de outros textos hindus, onde são referidos como “os sete mundos de Maya”, bem como, ao menos por analogia, na concepção hebraica dos sete céus – são formados e dirigidos sob a orientação de Seres de grande estatuto evolutivo e existem durante um período de tempo imenso: na verdade, alguns milhares de milhões de anos.

A Onda de Vida, com todos os Reinos da Natureza, incluindo a Humanidade, vai fazer sete vezes a volta a essa Cadeia Planetária de Globos. Uma volta completa desde o Globo ‘A’ ao Globo ‘G’ é denominada uma Ronda. Existem, portanto, sete Rondas em cada Cadeia Planetária, como é o caso da Terra.

A estadia da Onda de Vida num determinado Globo é habitualmente chamada de Período Global ou Período Mundial (ou, ainda, Ronda de Globo) e, no seu curso, surgem sete diferentes Raças-Raiz, de que falaremos adiante. Durante os muitos milhões de anos por que se prolonga um Período Global (mais de trezentos, no vigente (3)), centenas de encarnações se sucedem. Estamos actualmente no Globo ‘D’ da 4ª Ronda. Por sua vez, a presente Cadeia é a 4ª de uma série septenária. . .
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(3) Embora existam fósseis de épocas mais remotas, a Ciência Oculta sustenta que eles são “relíquias” de uma Ronda Anterior.


Os Três Grandes Princípios da Antropogénese Ocultista
Neste contexto, é oportuno referir quais são os três grandes Princípios da Antropogénese Ocultista, tal como magistralmente apresentados por Helena Blavatsky, em “A Doutrina Secreta” (4):
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(4) Pág. 15 do Volume III da edição em Língua Portuguesa (Ed. Pensamento, S. Paulo, 1973).

1. A origem poligenética do Homem: surgimento “simultâneo” de sete Grupos Humanos em sete diferentes “partes” do nosso Globo;
2. O Corpo Astral (Linga-Sharira) é formado antes do corpo físico denso, servindo o primeiro de modelo para o segundo;
3. O Homem, nesta 4ª Ronda, precedeu a todos os mamíferos, incluindo os antropóides, sendo o paradigma de todos os Reinos Inferiores.
Iremos encontrar esses três pontos ao longo da exposição que se segue.

Os sete Grupos Humanos referidos num dos Princípios têm naturalmente correspondência com os diferentes Septenários, tanto macro como microcósmicos. No momento, porém, interessa-nos realçar uma noção em particular: eles são os paradigmas das Sete Raça-Raiz que se irão activando e desdobrando no tempo. Essas sete Raças-Raiz estão de algum modo sempre presentes (1); existem arquetipicamente, como modelo impulsionador, no início do Período Global (tempo de manifestação mais específica da 1ª Raça-Raiz) e, finalmente, como produto consumado da Ideia e Vida interiores, no termo do mesmo período, coincidindo com o pleno desenvolvimento efectivo da 7ª Raça-Raiz.
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(5) Cfr. o artigo “Como Estudar Teosofia Segundo a Senhora Blavatsky”, de Robert Bowen (tradução de Belarmino Brito), na rubrica “Espaço HPB” do nº 28 da Biosofia (Centro Lusitano de Unificação Cultural, Lisboa, 2006).

Uma Raça-Raiz é um conjunto diferenciado de características e tónicas espirituais, mentais, psíquicas, vitais e físicas que correspondem a uma fase de crescimento evolutivo da Humanidade. Cada uma delas é necessária, como necessárias são todas as fases de crescimento (não cabe, pois, aqui, nenhuma noção de superioridade rácica; nem o conceito Ocultista de Raça coincide com o geralmente adoptado). E, nessa conformidade, o momentum de cada Raça-Raiz, o tempo em que se eleva pujantemente, é diferente e sucessivo: a 2ª Raça antes da 3ª, a 4ª depois da 3ª, a 5ª em seguida à 4ª, etc.

Lembremos agora o 3º dos grandes princípios da Antropogénese Esotérica acima referidos: visto que o Homem é o paradigma de todos os Reinos Inferiores (Animal, Vegetal, Mineral e até dos Elementais), cada nova Raça-Raiz não implica, somente, um novo tipo humano mas uma nova fauna e uma nova vegetação, devendo, pois, ser coligada com uma respectiva Era Geológica. Por exemplo, a 3ª Raça-Raiz tem correspondência com a que, actualmente, se chama “Era Mesozóica” (6).
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(6) O Ocultismo refere-se a uma “Era Primitiva”, consonante com a 1ª Raça, antes das quatro Eras Geológicas de que fala a Ciência. Explica-se, assim, que estejamos na 5ª Raça-Raiz, apesar da Ciência falar só de 4 eras Geológicas.


Raças e Continentes
Por outro lado, cada uma das sete Raças-Raiz ou, pelo menos, das cinco primeiras, tem uma grande massa territorial onde surge e se desenvolve.

Por exemplo, na 5ª Raça-Raiz, que é a vigente, essa massa territorial é a Europa, ou, antes, a Europa e a Ásia Menor ou, talvez ainda melhor, a Eurásia (o seu 1º Ramo é o Hindu).
Na 4ª Raça-Raiz, foi a Atlântida, a que se refere Platão no Timeu e no Crítias, embora aludindo somente a uma ilha (a de Poseidon), objecto, há mais de 11.500 anos, da última das grandes destruições (ocorridas ao longo de dezenas de milhares de anos) que afundaram aquele continente. Este Continente situava-se predominantemente a Ocidente, estando agora grande parte das suas terras submersas no Oceano Atlântico.

Na 3ª Raça-Raiz, o continente-lar foi a Lemúria. O nome deste continente foi inicialmente proposto em meados do século XIX, por P. L. Sclater. A sua massa gigantesca estendia-se principalmente em regiões meridionais do globo terrestre, incluindo algumas partes do que é hoje a zona ao Sul da África, Madagáscar, Ceilão, Sumatra, a Austrália e parte da América do Sul, prolongando-se para o Pacífico, além de vastíssimas regiões hoje submersas. No entanto, havia também a Lemúria setentrional, visto que aquele continente (com as suas ilhas) “ocupava não só uma vasta área no Oceano Pacífico, como ainda se estendia, em forma de ferradura, para além de Madagáscar, contornava a África do Sul (então simples fragmento em processo de formação) e alcançava a Noruega através do Oceano Atlântico” (7) (leia-se, do que é hoje o Oceano Atlântico) e de uma parte da actual Europa. Mais a Oriente, subia desde o Sul da Índia até à base dos Himalaias.
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(7) A Doutrina Secreta, Vol. III, pág. 350.


A 2ª Raça foi recebida no continente Hiperbóreo, “a terra que estendia os seus promontórios ao Sul e a Oeste do Pólo Norte, para receber a Segunda Raça, e que abrangia tudo o que hoje se conhece como Ásia do Norte. Foi o nome dado pelos gregos mais antigos à longínqua e misteriosa região, aonde, de acordo com a tradição, Apolo, o Hiperbóreo, ia viajar todos os anos”.
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(8) Idem, pág. 20. A edição em língua portuguesa, por lapso, contém a expressão “a Leste do Pólo Norte” mas, na verdade, era a Oeste (incluindo a Gronelândia e o Alaska) – cfr., por exemplo, a excelente edição da Theosophy Company, Los Angeles, fac-simile do original de 1888. Existia como que um anel à volta do Pólo Norte mas muito mais desviado para Ocidente do que para Oriente.

Quanto à 1ª Raça, o seu lar é a Shveta Dvipa, a Ilha Sagrada e Imperecível, o Continente Branco (o Monte Meru ou morada dos Deuses). Ela é por vezes relacionada com o deserto (outrora mar) de Gobi mas também se afirma que “a Estrela Polar mantém sobre ela o seu vigilante olhar, desde a aurora até ao crepúsculo de um Dia do Grande Sopro” (ou Dia de Brahma). Em termos metafísicos, porém, a Shveta Dvipa é o verdadeiro centro da Terra e, por isso, radicalmente, o berço de todas as sete Raças-Raiz.
As vindouras 6ª e 7ª Raça-Raiz são raças de universalismo e de síntese, porque têm correspondência com os Princípios unificadores ou de Unidade, respectivamente, Buddhi (Sabedoria Intuitiva) e Atman (Espírito), pelo que preferimos considerá-las como disseminadas planetariamente.
Poder-se-á perguntar por que motivo não são encontrados vestígios da Lemúria e da Atlântida ou, pelo menos, das civilizações que lá floresceram. Com efeito, em ambas as Raças se desenvolveram civilizações notáveis – por boas ou más razões –, descontando (e afastando, até, decididamente) os exageros ilusórios e sensacionalistas de certa literatura. A esta pergunta, respondeu o Mestre Koot-Hoomi, em 1882:

“Sem dúvida, os geólogos são muito eruditos; mas por que não levar em conta que, sob os continentes sondados e explorados por eles, em cujas entranhas eles encontraram a ‘era eocénica’ e a forçaram a entregar os seus segredos, pode haver, escondidos na profundeza dos insondáveis, ou melhor, dos insondados solos oceânicos, outros continentes muito mais velhos, cujos extractos nunca foram explorados geologicamente; e que eles podem algum dia derrubar completamente as suas teorias actuais… Por que não admitir – a verdade é que nenhum deles jamais pensou nisso – que os nossos continentes actuais, como a ‘Lemúria’ e a ‘Atlântida’, já foram várias vezes submersos e tiveram tempo de reaparecer de novo, produzindo os seus novos grupos humanos e civilizações; e que, na primeira grande transformação geológica, no próximo cataclismo – na série de cataclismos periódicos que ocorre desde o começo até ao final de cada Ronda – os nossos continentes que já passaram por uma autópsia afundarão, e as Lemúrias e Atlântidas se reerguerão? Pense nos geólogos futuros da sexta e sétima raças. Imagine-os cavando profundamente nas entranhas do que foi o Ceilão e Simla, e encontrando instrumentos dos veddhas [aborígenes do antigo Ceilão, actual Sri Lanka]; ou do remoto ancestral dos Pahari [povos montanheses que habitam a área sudoeste do Rio Ganges, na Índia] civilizados – cada objecto dos sectores civilizados da humanidade que habitaram essas regiões tendo sido pulverizado, transformado em pó, pelas grandes massas de geleiras em deslocamento durante o período glacial –, imagine-os encontrando apenas implementos grosseiros como os que são encontrados agora entre aquelas tribos selvagens; e declarando em seguida que durante aquele período o homem primitivo subia às árvores e dormia nelas, e sugava o tutano dos ossos dos animais, depois de quebrá-los (…) e saltando consequentemente para a conclusão de que, no ano de 1882 D.C, a humanidade era composta de ‘animais semelhantes ao homem’, de faces escuras, com barba, ‘com mandíbulas proeminentes e grandes dentes caninos pontiagudos’” (9).
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(9) Cartas dos Mahatmas para A. P. Sinnett, Vol. II, pág. 112 (Editora Teosófica, Brasília, 2001). Na altura o Sr. Sinnett, a quem foi dirigida a carta de que foi extraída esta passagem, residia em Simla, na Índia (sendo editor do jornal Pioneer); daí a referência a essa cidade. Sobre o mesmo assunto, ver também O Budismo Esotérico, de A. P. Sinnett (Livraria Clássica Editora, Lisboa, 1916, págs. 107-8; Ed. Pensamento, S. Paulo, 1986, pág. 57).

Na verdade, embora algumas das suas porções territoriais permaneçam actualmente à superfície, quer a Lemúria quer a Atlântida se afundaram. As destruições dos continentes que abrigam as Raças-Raiz, nos seus ciclos de predominância, dão-se alternadamente pelo meio do fogo, nos números ímpares (3ª, 5ª…) ou da água, nos números pares (4ª, 6ª…). Assim, a destruição da Atlântida, “lar” da 4ª Raça-Raiz nos seus tempos de predominância, verificou-se mais directamente pela água (o “dilúvio”, universalmente referido). Diferentemente, a Lemúria, embora tenha acabado por submergir, tinha antes sido destruída, em larga medida, por acção de fogos subterrâneos transformados em vulcânicos. Quanto ao fim da vigente 5º Raça-Raiz, pode ler-se no Mahabharata: “Quando um milhar de Éons é transcorrido, há uma seca por muitos anos; há poucos recursos e as criaturas morrem de fome (….) fogos destruidores submetem esta terra (…) impressionantes névoas obscuras elevar-se-ão. (…) quando o fim desta idade se estiver a aproximar, não choverá, não haverá colheitas….”. Se, no presente, com os problemas ambientais, podemos vislumbrar algo de semelhante a isto, é porque, analogicamente em muito menor escala, fenómenos como os descritos no Mahabharata ocorrerão na transição da 5ª para a 6ª sub-Raça da 5ª Raça-Raiz. O fim do predomínio da 5ª Raça-Raiz e início da 6ª está muito distante no tempo; mas não assim, no que diz respeito às 5ª e 6ª Sub-Raças da presente 5ª Raça.
Cabe aqui referir que, nesta série de artigos – “Esoterismo de A a Z” –, os temas escolhidos para cada letra são, numa grande parte, pretextos ou pontos de partida para que as diferentes temáticas fundamentais do sistema Ocultista sejam abordadas, de molde a que, no final, conjugando os vários artigos, se tenha uma visão integral (pelo menos, assim o esperamos).
Por este motivo, não nos ocupamos, neste artigo, somente da Lemúria e da Raça-Raiz, a 3ª, que lhe correspondeu. Abordamos algo de bastante mais vasto, onde se cruzam a Cosmogénese e a Antropogénese. Afloramos as questões dos Esquemas Planetários, das Cadeias, dos Globos, das Rondas e dos Períodos Mundias, embora em traços muito gerais; e, de forma já mais aproximada (embora sem descermos a pormenores), as coordenadas essenciais da Antropogénese Ocultista e do desenvolvimento das sucessivas Raças-Raiz, e factos mais importantes nelas ocorridos.

Raças e Princípios Humanos
Estamos, então, como já dissemos, no 4º Período Global da 4ª Ronda da 4ª Cadeia. Em A Doutrina Secreta, afirmou Helena P. Blavatsky:


“Cada Ronda traz consigo um desenvolvimento novo e até mesmo uma mudança completa na constituição física, psíquica, mental e espiritual do homem, fazendo evolucionar todos os princípios em escala sempre ascendente” (10).
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(10) Volume I, pág. 205.


Por estarmos agora na 4ª Ronda, (nela) predomina o 4º Princípio, o Kama-Manásico (desejo e mente Inferior); na 5ª Ronda, haverá um excepcional desenvolvimento do 5º Princípio, o Manas (Mente), e, nas 6ª e 7ª Rondas, respectivamente, de Buddhi (6º Princípio) e de Atman (7º Princípio). Analogicamente, um Princípio é mais estimulado em cada Raça-Raiz, embora dentro do condicionalismo do ciclo maior. Na vindoura 6ª Raça, o 6º Princípio será significativamente estimulado mas dentro do condicionalismo do ciclo maior desta 4ª Ronda, que é kama-manásica. Cabe ainda notar que os Princípios podem contar-se de baixo para cima ou, ao contrário, do mais elevado para o inferior. Assim, Atman, pode ser visto como o 1ª ou como o 7º Princípio; Manas, como o 3º ou o 5º Princípio, etc. O 4 é o ponto de equilíbrio, a posição charneira.
Deste modo, na actual Raça, a 5ª, dois Princípios são especialmente estimulados: o Mental, e o Prana ou Força Vital (ou, noutra classificação, o veículo desta Vitalidade – o Duplo Astral ou Linga-Sharira).

A presente Ronda, por ser a 4ª, é a caracteristicamente humana (visto que o Reino Humano é o 4º no Arco Ascendente). É por isso que nela, conforme consta de um dos grandes Princípios da Antropogénese Ocultista, já referidos, o Homem é o paradigma de tudo na Natureza e o indutor de todas as mudanças à sua volta, em todos os diferentes Reinos da Natureza. Ele é de facto o Rei da Criação – mas não, como geralmente se pensa, para abusar ou dizimar, de forma prepotente e arbitrária, espécies dos Reinos inferiores (animais, plantas). Um rei tirano e cruel não é um bom rei…

As Raças Astrais
Vistos estes pressupostos, lembremos ainda um dos dois Princípios fundamentais da Antropogénese Esotérica: “O Corpo Astral (Linga-Sharira) é formado antes do corpo físico denso, servindo o primeiro de modelo para o segundo”.

Ora bem, as duas primeiras Raças foram Raças Astrais ou Etéreas. Assim são habitualmente denominadas na literatura ocultista. De facto, durante esse imenso período de tempo, que abrange muitas dezenas de milhões de anos, o ser humano não havia ainda adquirido um Corpo Físico Denso, sendo o Corpo Astral o seu veículo ou meio de manifestação inferior, mais material.
O Homem da presente Cadeia, Ronda e Período Global encarnou em formas que lhe foram propiciadas por uma Hierarquia Criadora de seres habitualmente designados por Pitris Lunares. A palavra “Pitris” significa “progenitores, ancestrais”. Devido a razões que não podemos desenvolver aqui (pois necessitaríamos de nos alargar muito), o termo “Lunares” advém do facto de, por um lado, essas entidades terem sido Humanas na anterior Cadeia, a chamada Cadeia Lunar; e, por outro lado, de as formas cujos moldes criaram e precipitaram, para serem utilizadas pela Humanidade das primeiras Raças, serem as dos Princípios lunares: o Kama (desejo; psiquismo inferior; emoção e mentalidade animal) e o Linga-Sharira (Duplo Astral, mais tarde chamado também Duplo Etérico).

Os Pitris Lunares são igualmente designados, na literatura sagrada da Índia, por Pitris Barhishads. Esta última palavra significa “o que está assente sobre o fogo”. Ora, o Fogo é um símbolo do Mental, do Mental Criador, do Manas Superior. Assim, estes seres, a partir do seu Princípio Mental, pelo poder da vontade mental criadora (Kryiashakti) geraram à volta de si mesmo, por sucessiva materialização, qual uma lagarta no casulo, as formas lunares, o Kama e, depois, o Linga-Sharira (11).
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(11) Afirma-se por vezes que os Pitris Lunares eram desprovidos do Princípio Mental. No entanto, tal só pode ser entendido no sentido de que eles não eram ainda capazes de o exsudar para a Humanidade, por nele não terem domínio suficiente. Obviamente, porém, que tinham activo o Princípio Mental.

Ao envolverem-se (ao encarnarem, por outras palavras) nessas formas, os Pitris Lunares geraram o modelo, a matriz, e deram o impulso para que a natureza, tendo esse modelo e esse “empurrão” como ponto de partida, pudesse vir a reproduzir os padrões do que viria a ser o Quaternário Inferior do Homem: o Kama(-Manas), o Prana, o Linga-Sharira e o Sthula-Sharira ou Corpo Físico Denso. Na Primeira Raça, quando este trabalho foi realizado, a materialização não chegou ao Plano Físico, à formação de um veículo físico denso, nem tão pouco na Raça seguinte. Tal só veio acontecer a meio da Terceira Raça, a Lemuriana. De facto, a forma Astral precedeu a Física, servindo-lhe de molde, de padrão. O Linga-Sharira é, justamente, o Corpo-Modelo, o Corpo-Padrão; a Alma Astral, que resulta da intercessão dos Princípios Lunares (Kama-Manas e Linga-Sharira), é o protótipo causador e formativo do Corpo Físico.
De qualquer modo, os Pitris Lunares não podiam “dar” ao homem o Princípio Mental, e só mais tarde seria o tempo para que esse Princípio mediador pudesse ser despertado. Assim, o homem das duas primeiras Raças tinha um hiato entre a sua natureza espiritual e a sua natureza lunar, dada a inibição do Princípio Mental que permite uni-las.

Compreende-se, assim, que o homem da Primeira Raça fosse “um ser etéreo – não-inteligente, mas super-espiritual. (…) E, como o animal e o vegetal, ele desenvolve corpos monstruosos, que correspondem ao seu ambiente grosseiro”; e que o homem da Segunda Raça “ainda é [fosse] gigantesco e etéreo, mas adquirindo mais firmeza e densidade corporal – um homem mais físico e, no entanto, ainda menos inteligente do que espiritual” (12).
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(12) Cartas dos Mahatmas a A. P. Sinnett, Vol. I, 283. Embora estas palavras tenham literalmente sido escritas referindo-se às Rondas, elas aplicam-se também, por analogia e correspondência, às Raças. Aliás, as três primeiras Raças recapitulam, à escala, as três primeiras Rondas.


A Importância do Princípio Mental
Isto significa que a manifestação do ser humano, ao descer aos mundos de progressiva materialidade, implica um percurso desde os níveis espirituais, que se projectam para os níveis inferiores, à medida que a forma em que encarna se vai densificando; e, com isto, dá-se uma perda da polarização espiritual (espiritual MAS inconsciente) da entidade humana. Esta descida e materialização, bem como o acordar desde uma vivência muito subjectiva para uma crescente resposta aos impactos do mundo objectivo, destina-se a permitir o desabrochar da inteligência, da consciência individual e da auto-consciência. O despertar e desenvolvimento mental começará por se fazer à custa dessa espiritualidade inconsciente ou passiva. Mais tarde, na consumação evolutiva humana, a inteligência objectiva, assim adquirida, enriquecerá e irá energizar e activar a natureza espiritual (a Mónada; a díade Buddhi-Atman) que, deste modo, alcançou consciência de si mesma, através do contacto com a manifestação ou expressão de outras Mónadas, que moldam o mundo externo, objectivo. Resumindo este processo, escreveu Helena P. Blavatsky “A primeira Humanidade foi, portanto, uma pálida cópia dos seus Progenitores; demasiado material, apesar de Etérea, para constituir uma Hierarquia de Deuses; demasiado espiritual e pura, para constituir Homens – possuindo, como possuía, todas as perfeições negativas (nirguna]. A perfeição, para que o seja verdadeiramente, deve nascer da imperfeição; o incorruptível deve ter a sua imagem no corruptível, que será o seu veículo, base e contraste” (13).
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(13) A Doutrina Secreta, Vol. III, pág. 110. Este é igualmente um axioma alquimista.

Deste modo, o desenvolvimento mental começa por ser concomitante com o aumento de materialidade, para acabar por ser um factor de enriquecimento dos Princípios mais elevados, quando o “aroma” (apenas a natureza mais elevada) de Manas é absorvido pela díade espiritual, Buddhi-Atman. Tal é o resultado e a justificação da ligação que o Mental faz e permite entre o Eu Espiritual e as formas inferiores.

Os Grandes Eventos da 3ª Raça-Raiz
Essa ligação só vem a ser estabelecida na 4ª Ronda e, particularmente, na 3ª Raça-Raiz, a Lemuriana. É um evento – ou antes, um conjunto coligado de eventos – que representa, porventura, o momento mais importante de todo o percurso da nossa Humanidade. Com efeito, a meio da 3ª Raça-Raiz, uma elevada ordem de Seres, os Kumara (14), integrantes de uma grande Hierarquia Criadora (designada por vários nomes: os Agnishvattas, Filhos do Fogo, Senhores da Mente, Senhores da Chama, Manasaputras, Filhos de Mahat, etc.) encetaram um trabalho com a nossa Humanidade, preenchendo o hiato entre o Homem Espiritual e o Homem Lunar, despertando o Princípio Mental que entre eles medeia. Eles como que encarnaram nesta Humanidade (na Humanidade como um todo e, individualmente, em algumas das suas unidades mais avançadas (15)), alentando, oxigenando, vivificando o fogo da Mente. Os gregos personificaram estes grandes Seres em Prometeu. Tornaram, assim, o Homem num ser integrado, total, nos seus 7 Princípios – um ser em que “o mais elevado espírito e a mais densa matéria estão unidos pelo fogo da mente”, conforme o axioma ocultista. Os sem mente, homens-animais, passaram então da fase infantil para a sua adolescência, começando a ser responsáveis, a comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, a escolher um fruto ou outro, a poder acertar conscientemente ou a errar também de forma consciente – a “pecar”. E, enfim, aterraram, definitivamente, no plano físico: “Quando o homem se densificou, começou no Astral e depois, na medida em que foi capaz de se concretizar em baixo, por analogia, fez a sua ligação em cima, através do mental. Inicialmente destituído de corpo denso e do mental, o homem em formação, quando desceu para ser terrestre, subiu para ser mental” (16).
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(14) Dos quais se fala, nomeadamente, nos Puranas. É importante referir isto porque os ecos da Eterna Sabedoria expressaram-se em diferentes textos religiosos ou filosóficos das grandes Tradições. Tomemos isto em conta, em vez de nos perdermos em febres de revelações sensacionalistas…
(15) Em alguns casos, houve uma encarnação directa. Na maioria entre a humanidade, contudo, houve apenas uma activação do 5º Princípio (o Mental), pela influência desses Grandes seres.
(16) Humberto Álvares da Costa, “Evolucionismo. Como foi Gerado o Homem” Portugal Teosófico, nº 79, STP, Lisboa, 2000.

Repare-se que estes acontecimentos se verificaram numa Raça-Raiz que tem correspondência com os 3º e 5º Princípios. E, assim, densificou-se o 3º Princípio (Corpo Astral) e fez-se afluir ao nível físico a vitalidade que por ele passa (sendo a Vitalidade, noutra classificação, o 3º Princípio); e, concomitantemente, foi estimulado o 5º Princípio (o Manásico). Mais ainda: isto ocorreu na 4ª Sub-Raça da 3ª Raça; e o 4 é sempre o factor de ligação. Ora, foi então que o Homem Espiritual e o Homem Inferior chegaram a unir-se. . .

Ecos na Bíblia
No livro do Genesis, na Bíblia judaico-cristã, estes magnos eventos estão aludidos, particularmente no Capítulo III. Vejamos os primeiros versículos: “A serpente era o mais astuto de todos os animais dos campos que o Senhor Deus tinha formado. Ela disse à mulher: ‘É verdade que Deus vos proibiu comer do fruto de toda a árvore do jardim?’. A mulher respondeu-lhes: ‘Podemos comer do fruto das árvores do jardim. Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: ‘Vós não comereis dele, nem o tocareis, para que não morrais’. ‘Oh, não! – tornou a serpente – vós não morrereis. Mas Deus bem sabe que, no dia em que dele comerdes, os vossos olhos se abrirão, e sereis como deuses, conhecedores do bem e do mal’. A mulher, vendo que o fruto da árvore era bom, de agradável aspecto e mui apropriado para abrir a inteligência, tomou dele, comeu, e o apresentou também ao seu marido, que comeu igualmente”.

Note-se que a tradução “Senhor Deus” é uma falsificação generalizada. Quem criou o homem e a terra e até os céus, não foi o/um Deus Uno mas hierarquias de poderes criadores. Refira-se ainda que o Princípio da Inteligência Objectiva é feminino, logo, coligado com a mulher. Na Árvore da Vida, radica em Binah, o topo da Coluna do Rigor, da Ordenação, da medida, da regra…

Aí estão os ecos, desfigurados, de um ensinamento imemorial (17). Vendo, além da letra que mata, o sentido esotérico, a Serpente representa os elevados Seres a que acima referimos, os Dragões de Sabedoria, como também são conhecidos. A “tentação”, na realidade, não constituiu um mal em si mesma; antes representa, sim, uma promessa de Luz. Lúcifer é, etimologicamente, “o Portador da Luz” – apesar de ter sido amaldiçoado pelas interpretações desvirtuadas das teologias exotéricas. A Humanidade precisava, no seu percurso evolutivo, de sair da idade infantil – na qual não pecava por inocência, por falta de inteligência, por incapacidade de discernir – e de se dotar de mentalidade e de consciência individual – com o inerente ónus de discernir e escolher entre o bem e o mal, que passou a conhecer. Como é normal na adolescência, as escolhas podem ser frequentemente erradas; mas, em si mesmo, o facto de se poder escolher, é bom e necessário. É uma fase de crescimento. A partir de então, se é verdade que se contrai a responsabilidade kármica da escolha nociva, também é verdade que, em vez da inocência passiva desprovida de mérito, pode manifestar-se a meritória bondade activa. Diabolizar esse gigantesco passo colectivo em frente, como fazem as erróneas interpretações exotéricas, sempre hostis à luz da Inteligência e do Conhecimento, é um erro tão primário quanto aquele que cometeriam quaisquer pais que quisessem impedir a maturação dos seus filhos (maturação que implica o atravessar da fase turbulenta da adolescência), pretendendo que se conservassem sempre como crianças inconscientes, por si dominadas e conduzidas. “Graças àquela revolta da vida intelectual contra a inactividade mórbida do espírito puro, é que hoje somos o que somos – homens autoconscientes, pensantes, possuindo em nós mesmos as capacidades e os atributos dos Deuses, tanto para o bem como para o mal. Os Rebeldes são, portanto, os nossos Salvadores. Que os filósofos meditem sobre isso, e mais de um mistério se tornará claro para eles. Não é senão pela vis attractiva dos contrastes que os dois opostos – Espírito e Matéria – podem ser cimentados entre si, na Terra, e, fundidos no fogo da experiência consciente e do sofrimento, encontrar-se unidos na Eternidade” (18).
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(17) Cfr. o artigo “Adão e Eva – Desfiguração de um Segredo Arcano”, de Isabel Nunes Governo, Biosofia, nº 25, Centro Lusitano de Unificação Cultural, Lisboa, 2005.
(18) A Doutrina Secreta, Vol. III, pág. 117.

No relato bíblico, deparamo-nos com outros factos co-relacionados, atinentes à 3ª Raça-Raiz:

* Antes mesmo do relato da “tentação” pela serpente, temos a criação de Eva ou, antes, a separação de Adão e Eva (cfr. 2: 18 a 2:25). De facto, é nesta mesma época (Lemuriana), concomitante com o trabalho dos Senhores Kumara, que se dá a separação dos sexos (19). O contraste de opostos pode ter um papel motriz em qualquer processo evolutivo. Assim, durante um período da nossa evolução, tal acontece com a “oposição” de dois sexos, até que a Humanidade venha a adquirir um carácter andrógino algures no futuro. . .
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(19) A Humanidade passou por diversas fazes de caracterização sexual e de reprodução. Em A Doutrina Secreta, Vol. III, págs. 148 e 140, escreveu H. P. Blavatsky: “A separação dos sexos deu-se na Terceira Raça. De assexual que era a princípio, a Humanidade passou a hermafrodita ou bissexual, e finalmente o Ovo humano começou a dar nascimento, de modo gradual e quase imperceptível no seu processo evolutivo, primeiramente a seres nos quais predominava um dos dois sexos, e por último a homens e mulheres diferenciados. (…) A reprodução bissexual é uma evolução, uma forma especializada e aperfeiçoada, na escala da matéria, do acto de produção fissípara”.

Em hebraico, Jah é “o nome divino de Chokmah … uma potência activa masculina” (20). Por sua vez, Havah ou Hevah designa a potência feminina. Helena Blavatsky define assim os seguintes termos, que põe em evidência um mundo de significados que escapam às interpretações literais das Escrituras:
“Jah-Eve (Jah-Eva) – Um ser hermafrodita, ou seja, a forma primitiva da humanidade, o Adão terrestre original.
Jah-Hevah – O primeiro andrógino divino; ao se dividir nos dois sexos, ou seja, homem e mulher, tornou-se Hah-Heva.
Jah-Hovah – Vida masculina e vida feminina; macho e fêmea. Esta palavra composta indica que, quando “ ‘os homens passaram a chamar-se Jehovah’ ou Jah-Hovah (Genesis, 4: 26), começou a raça humana com sexos distintos. Jah-Hovah equivale a Jehovah.

Jehovah-Eva – Adão-Kadmon [o Homem Arquetípico] divide-se em duas metades, macho e fêmea, convertendo-se desta forma em Jah-Hovah ou Jehovah-Eva” (21).
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(20) Helena Blavatsky, Glossário Teosófico (Ed. Ground, São Paulo).
(21) Idem.

A frase “os homens passaram a chamar-se Hehovah” (Gensesis, 4: 26) é, como tantas vezes acontece, retocada nas traduções exotéricas, das religiosidades da letra morta, para algo como: “E o nome do Senhor passou a ser invocado desde então”.
* Depois de Adão e Eva comerem do fruto proibido, “os seus olhos abriram-se; e, vendo que estavam nus, tomaram folhas de figueira, ligaram-nas e fizeram cinturas para si” (Genesis, 3: 7).

Neste simples versículo, muitos importantes significados estão contidos. A abertura dos olhos é simultaneamente física e mental. A visão é o sentido que, esotericamente, está em correspondência com o Mental. Repare-se que “o fruto da árvore … mui apropriado para abrir a inteligência” é habitualmente representado como uma maçã. Ora, “A maçã é o fruto, por excelência, significativo da Mente (libertadora), o princípio de Manas, e primeiro degrau da Tríade superior (espiritual, redentora e imortal), em contraposição com o Quaternário inferior (material e perecível). Este símbolo muito provavelmente assenta na configuração pentagonal dos alvéolos das suas sementes, alusiva ao 5º princípio (Manas) na escala septenária dos princípios do Homem. No âmago da maçã (abrindo-a transversalmente), podemos ver claramente um pentágono cujas pétalas contêm as preciosas sementes, alusivas às sementes da Mente doadas pelos Kumâras” (22). Assim, a Humanidade adquiriu a capacidade do conhecimento objectivo, passando a relacionar-se concretamente com o mundo externo, objectivo e físico, a interpretá-lo (mentalmente), a dele receber influências definidas, ao mesmo tempo o influenciando e modificando. O sentido da visão é aquele que é desenvolvido na 3ª Raça-Raiz. Está aqui também aludida a densificação do ser humano: o seu corpo físico vai-se consolidando; os tipos etéreos das Primeiras Raças vão ficando para trás. O máximo de densificação vai-se atingir, naturalmente na 4ª Raça-Raiz.
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(22) Excerto do artigo referido na nota 17.

A verificação de que estavam nus decorre das aludidas abertura da visão para o mundo objectivo e densificação da forma humana (é por causa dessa densificação que, simbolicamente, da terra é necessário tirar, penosamente o sustento; ver Genesis, 3: 17); mas, acompanhada do sentimento de “vergonha”, prende-se ao despertar do impulso para o encontro sexual. O acto sexual vem a tornar-se o factor de reprodução. Como já se aflorou, outros modos existiram nas duas primeiras Raças e em parte da 3ª Raça-Raiz. A reprodução por esta via sexual coexistiu ainda, durante algum tempo, na nossa Humanidade, com outras formas.
* Passa a sentir-se definidamente o fenómeno da morte. Até então, nas Raças e sub-Raças anteriores, o ciclo encarnação-desencarnação era quase imperceptível, próprio do estado ainda bastante subjectivo e onírico em que os homens viviam. Suave era a passagem pelos véus da morte. Agora, soam as palavras terríveis: “… até que voltes à terra de que foste tirado; porque és pó, e em pó te hás de tornar” (Genesis, 3:19; ver também 5:4). A partir de então, passa a haver a consciência de que há morte, de que há um termo para a existência – para cada existência – física. Tal acarreta angústia (o que é, tantas vezes, um potenciador evolutivo) mas, sobretudo, coloca-nos na frente a ideia de prazos. O ser humano sente-se instado a avançar…

Dados da Sabedoria Esotérica
Muito sucintamente, gostaríamos ainda de referir que é a partir deste momento que a Hierarquia dos Agnishvattas assumiu o governo oculto da Terra, dando origem à Grande Fraternidade que permanece até hoje – com os seus vários graus de Mestres de Sabedoria e Compaixão e seus discípulos – e que continuará, pelos séculos e milénios afora, a velar pela evolução de tudo quanto neste globo tem o seu lar.

A Raça-Raiz lemuriana foi uma época de gigantismo: o ser humano tinha uma estatura muito superior à de hoje e, visto que é o paradigma de todos os outros Reinos da Natureza (pelo menos dos que estão abaixo de si), do mesmo modo era gigantesca a fauna e a flora que o rodeavam. Até as montanhas eram gigantescas. Quando Fernão de Magalhães e a sua tripulação chegaram à Patagónia (região que outrora integrou a Lemúria), na sua viagem de circum-navegação, encontraram seres humanos a quem os europeus davam pela cintura. As tradições sobre Titãs e Gigantes estão universalmente disseminadas (na Bíblia, ver Genesis, 6:4).
O ser humano viveu, por exemplo, entre os grandes sáurios. Antes que, há cerca de 200 anos, a Ciência moderna redescobrisse a existência desses répteis, as mais diferentes civilizações e culturas tinham registos acerca dos dragões…
Por certo, estas afirmações da Sabedoria Oculta podem parecer delirantes, e mais ainda se dissermos que existiam homens ou proto-homens há 18, há 45, há 150 milhões de anos (desde há 18 milhões, a humanidade física; antes, a Humanidade astral). Entretanto, a Ciência Esotérica pode argumentar ponto por ponto para defender as suas teses; e quem o quiser verificar, pode ler A Doutrina Secreta ou, ainda, As Cartas dos Mahatmas.
Há algumas décadas, éramos ensinados nas escolas que o Homem tinha 600.000 anos. Hoje em dia, parece que vamos em 4, 5 milhões de anos, sete ou oito vezes mais… Veja-se a que ritmo se multiplicou a suposta idade do homem! São as luzes e sombras do método indutivo. Não pretendemos com isto atacar a Ciência dita experimental. O seu esforço de conhecimento é meritório. Certamente, em muitos aspectos, realizou extraordinárias conquistas. Ajudou a disciplinar a mente humana, exigindo rigor e objectividade. Contribuiu para dissipar superstições insensatas. Os grandes cientistas são humildes, justamente porque sabem como o que hoje são modelos aceites e aparentemente sólidos, podem amanhã estar reduzidos a escombros. A arrogância vem quase sempre de quem fala em Ciência mas, na verdade, não está a par dos seus avanços, dos seus debates e, até, dos seus desaires ou perplexidades.
Se, entretanto, em metade de um século, se multiplicou por sete ou oito vezes a idade estimada do homem, quer dizer que um dia se encontrarão restos humanos de há 30 ou 50 ou 170 milhões de anos? Não, não encontrarão (de resto, é questionável que certas ossadas catalogadas como humanas o sejam realmente; mas… adiante). Uma das razões por que não se encontrarão, já antes foi aludida a propósito da submersão dos continentes. Acrescem outras, contudo. A mais importante é que nas primeiras Raças, o ser humano, como dissemos, não tinha ainda chegado a densificar-se (uma designação, em literatura hindu, para homens da 2ª Raça é, significativamente, “os sem ossos”). Mesmo na Terceira Raça, o processo de densificação foi gradual e muito estendido no tempo. Poderão encontrar-se restos de homens de há 15 milhões de anos mas não de há 70 milhões de anos. E mesmo para os primeiros serem reconhecidos e aceites oficialmente como tais – mais até, para serem procurados, nas correspondentes camadas geológicas –, é preciso que antes se estilhaçassem alguns preconcebidos que o Ocultismo considera errados.

A Atlântida e a 4ª Raça-Raiz
Há cerca de 9 milhões de anos teve início o período específico da 4ª Raça-Raiz, que assentou na Atlântida. Foi a primeira Raça totalmente Física (a 3ª Raça foi ainda parcialmente etérea, ou seja, nas primeiras sub-Raças) e constituiu o ponto de maior materialidade alcançada. O 4º Globo da Cadeia Planetária é o mais denso de todos; também o são, por analogia, a 4ª Ronda e a 4ª Raça-Raiz.

Nesta Raça, verificou-se um importante desenvolvimento mental, embora na sua natureza inferior, Kama-Manásica, isto é, manifestando-se egoisticamente como astúcia. Desenvolveu-se a linguagem e o sentido do Gosto.
Como nas últimas sub-raças (nomeadamente a 6ª e a 7ª) da Lemúria, também nesta 4ª Raça-Raiz se desenvolveram algumas civilizações notáveis. Não nos vamos alargar aqui na sua apreciação. Diremos apenas que (longe das fantasias que fazem da Atlântida o cadinho de todos os prodígios mirabolantes) afirmam o Ocultismo e os registos, escritos ou orais, dos mais diferentes povos, que civilizações, conhecimentos, conquistas e edificações de grande monta tiveram lugar em idades remotas. As artes e ciências desenvolveram-se sobre a direcção das “Dinastias Divinas”. O orgulho exclusivista de pensarmos que civilização, conhecimento, ciência e mesmo técnica é apanágio somente dos últimos séculos e, ainda assim, confinados ao Ocidente, é rejeitado pela Eterna Sabedoria. Mesmo sobre as excelências da actual civilização, os séculos ou milénios futuros certamente serão melhores juizes, porque mais imparciais.

No final da Terceira Raça-Raiz e, depois, na Quarta Raça-Raiz (a Atlante), a “maioria da humanidade caíra no pecado e na iniquidade” (23). Isto é a consequência possível da densificação, da polarização sexual e, no caso da 4ª Raça-Raiz, da predominância do 4º Princípio, o Kama-Manas. Este é o nível do desejo, da astúcia, da mentalidade animal. Nesta Raça, verificou-se, em muitos, a satisfação desenfreada de paixões bestiais. Proliferaram as uniões contranatura, nomeadamente, com animais. Enquanto uma parte dos seres humanos, subjugando os seus Princípios inferiores, se uniram aos “Filhos da Luz”, e desenvolveram concepções elevadas do Universo e da Natureza, outros “caíram, vítimas das suas naturezas inferiores, [e] converteram-se em escravos da Matéria. De ‘Filhos da Luz e da Sabedoria’ que eram, passaram a ‘Filhos das Trevas’” (24). Desenvolveram cultos fálicos, para os quais ergueram templos e adoptaram concepções antropomórficas, que são as antepassadas do antropomorfismo da religiosidade exotérica que chegou até nós. Começaram os sacrifícios ao Deus da Matéria.
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(23) A Doutrina Secreta, Vol. III, pág. 337
(24) Idem, pág. 290.


Parte da Humanidade enveredou, assim, consequentemente, pelo mau uso dos poderes psíquicos (para fim egoístas e nocivos), ou seja, pela magia negra (muitas vezes de matriz sexual). Isto levou à luta dos Adeptos da Quinta Raça nascente com “os Feiticeiros da Atlântida, os Demónios do Abismo, os Insulares rodeados de água, que desapareceram no Dilúvio” (25).
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(25) Ibidem, pág. 402.


Num arquivo da Grande Fraternidade, reproduzido por Helena Blavatsky, estes eventos resumem-se deste modo: “Os homens diminuíram consideravelmente de estatura, e a duração da sua vida decresceu. Havendo decaído quanto ao aspecto divino, eles se mesclaram com as raças animais (…) Muitos adquiriram conhecimentos ilícitos e seguiram voluntariamente a Senda da Esquerda” (26).
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(26) Ibidem, pág.349.

Mais uma vez, estes acontecimentos aparecem, embora palidamente, reflectidos na Bíblia. Quanto à diminuição do tempo de cada existência humana, veja-se, por exemplo, Genesis, 6:3. Relativamente à corrupção da Humanidade e ao Dilúvio, veja-se Genesis, capítulos 6 a 8. Note-se que Noé (referido nestes Capítulos) tem os seus equivalentes-homólogos em formulações religiosas anteriores, nomeadamente no Xisuthrus caldeu.

A 5ª Raça-Raiz e o os Ciclos Vindouros
Quanto à 5ª Raça-Raiz, a actual, emergiu há cerca de um milhão de anos (o seu surgimento está aludido no Capítulo 9 do Genesis bíblico; Noé representa, pois, o Manu-semente da 5ª Raça-Raiz). Caracteriza-se, na correspondência que já assinalámos, por um importante desenvolvimento do Mental, o 5º Princípio (embora este só venha a alcançar um desenvolvimento exponencial na 5ª Ronda, e não na presente 4ª, em que estamos). Por certo, até agora, “A civilização sempre desenvolveu os aspectos físico e intelectual a expensas dos aspectos psíquico e intelectual”, o que muitas vezes tem sido mais uma maldição que uma bênção (27). No entanto, como vimos, esse desenvolvimento é necessário para que, mais tarde, sobre ele assente a manifestação dos dois Princípios superiores, espirituais, Buddhi (Intuição) e Atman (o Espírito Puro).
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(27) Ibidem, pág. 337 e 429.

Grande parte da Humanidade pertence ainda, no seu estágio de desenvolvimento, à 4ª Raça-Raiz (em especial à sua 7ª sub-Raça). Não obstante, atingiu-se já a 5ª sub-Raça da 5ª Raça-Raiz. Inclusive, os primeiros clarões da aurora da 6ª sub-Raça da 5ª Raça já se vislumbram no horizonte; e, sempre pela mesma lei de correspondências numerológicas, o 6º Princípio, Buddhi ou Sabedoria Intuitiva, aflorará mais, elevando-se acima do Mental. Muito mais longe chegará na 6ª Raça; e muito mais ainda, na 7ª Raça.

Ainda assim, estes são ainda degraus intermédios da condição divina que a média da Humanidade (alguns ficarão para trás, no Grande Juízo da 5ª Ronda, e atrasar-se-ão no seu caminho; e outros, por seu turno já se adiantaram mais, do que a média) deverá alcançar na 7ª Ronda. Mesmo então, outras Cadeias, outros Mundos, outros Sistemas, outros Universos imensos permitirão a ascensão pela escada infinita, rumo a patamares de glória que nem as nossas pobres palavras, nem sequer os limitados conceitos mentais, podem compreender e expressar.

José Manuel Anacleto
Presidente do Centro Lusitano de Unificação Cultural

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